domingo, 24 de outubro de 2010

20 de novembro: lembrar também é resistir

Mais um 20 de novembro se aproxima. Feriado novo, data comemorativa ainda recente na história de nosso país, não podemos permitir que se torne apenas mais um dia de descanso. Necessitamos de descanso dos nossos trabalhos, mas necessitamos ainda mais construir uma cultura que consiga superar a separação de seres humanos pela cor da pele. Se o capitalismo discrimina para melhor explorar, é mais do que urgente resgatar momentos realmente grandiosos para seguir denunciando tudo aquilo que fere e prejudica a humanidade.

Fotografia do Quilombo Jabaquara em Santos, final do século XIX

Choupana no Quilombo Jabaquara - final do século XIX

Panorama do Quilombo Jabaquara, Santos/SP - final do século XIX.

Nestas maravilhosas fotografias do século XIX, podemos visualizar o Quilombo do Jabaquara, organizado no morro de mesmo nome na cidade de Santos, em fins do século XIX. Criado em 1882 para abrigar escravos fugidos das fazendas, chegou a contar com uma população de 10.000 pessoas. Era um quilombo um tanto quanto distante da realidade de Palmares, por estar a apenas 6 anos da abolição oficial da escravidão no Brasil. Distante por fazer parte de um momento histórico em que a escravidão era repudiada por muitas pessoas, inclusive pelas fileiras do Exército Brasileiro no efeito "pós - Guerra do Paraguai"; e mais distante ainda por ser organizado por pessoas livres para colaborar com a fuga de escravos - iniciativa dos abolicionistas Américo Martins e Xavier Pinheiro, em uma reunião na casa de Francisco Martins dos Santos. O major Quintino de Lacerda foi escolhido para manter a ordem no local.

Importante compreender que, por conta dos séculos de escravidão africana no Brasil (século XVI ao XIX), muitas "modalidades" de quilombos podem ser identificadas. O Quilombo do Jabaquara difere muito dos primeiros tipos de organização quilombola levadas a cabo pelos primeiros escravos que ousaram fugir e ousaram se organizar para lutar.

Interessante poder visualizar em foto a imagem de um quilombo. Falamos muito nesse nome, mas vemos apenas desenhos. Nesse caso, por ter acontecido no final do século XIX, temos fotos para que nossos cérebros constatem algo mais fiel à realidade - o privilégio que a invenção da fotografia nos trouxe em tempos modernos.

Falar a palavra quilombo é resgatar uma identidade que tentaram exterminar há mais de 200 anos, quando as línguas ligadas às populações indígenas e africanas foram legadas à marginalidade. Falar uma palavra da língua quimbundo constitui uma resistência por si só.

Importa sim resgatar a ideia do quilombo, numa sociedade que vive tantas massificações e distorções, tanta repressão e tanta falta de liberdade, onde seres humanos ainda são discriminados, vivendo a barbárie da luta de classes no sistema capitalista.