sábado, 30 de março de 2013


Quarenta e nove anos depois: sequelas do Golpe Cívico Militar e perspectivas da resistência



“São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas 

Memória de um tempo onde lutar por seu direito

 É um defeito que mata”

Gonzaguinha


Quase meio século depois do fatídico 31 de março de 1964 (ou na verdade, 1º de abril), vivemos estranhamente um sumiço das suas lembranças, uma impunidade ímpar na América Latina e grandiosas sequelas de conformismo.
Quarenta e nove anos depois, a memória da ditadura permanece viva por pura insistência de parte da esquerda brasileira, que, ao contrário da política do governo federal, do “não revanchismo”, luta para que assassinos e torturadores sejam julgados como tais, levando a cabo o exemplo de outros países latino americanos que estão à frente do Brasil no quesito “julgamentos pós ditadura”. Argentina, Chile e Uruguai avançaram no sentido de cumprir a normativa internacional que considera os crimes contra a humanidade cometidos por autoridades estatais não passíveis de anistia por leis nacionais.
No mais, o espólio dos vinte anos de ditadura continua latente. A “educação” governamental da cultura desenvolvida durante esse período permanece. Uma cultura do “detestar política”, ter horror a partidos e temer lutar pelos próprios direitos, continua sendo parte dessa herança, viva e latente.
No momento, estamos próximos de mais uma tentativa de reforma previdenciária que pode exigir dos trabalhadores homens 105 anos, e das mulheres 95 – entre contribuição e tempo de serviço. Pior, um extermínio de direitos tão bem orquestrado, que 76% do povo brasileiro aprova o governo que pretende levar o direito à aposentadoria às raias do inatingível – ou, pelo menos, daquilo que não será usufruído por muito tempo. Caso isso seja aplicado, quando é que os jovens que começarem a trabalhar daqui a alguns anos vão se aposentar?
Conjugada a essa reforma, o ACE (Acordo Coletivo Especial), incentivado pelas centrais sindicais que há tempos já entregaram os trabalhadores à mercê da exploração, visa facilitar ainda mais o avanço de um tipo de governo que discursa defendendo o povo, mas retira cada dia mais os direitos desse mesmo povo. Passo que cumpre na sistemática do desmonte dos direitos trabalhistas, beneficiando amplamente a burguesia, que nunca lucrou tanto como lucra hoje.
Por fim, não posso deixar de lembrar minha categoria profissional, do magistério, que tem sofrido tantos e tão duros ataques. Uma categoria que sempre trouxe, em seu fundamento, a luta contra a barbárie, o esclarecimento em lugar da ignorância. Muitos foram os professores – e também seus alunos – que tombaram lutando contra a ditadura. Seus nomes, seus rostos, seus corpos, alguns sabemos, outros desconhecemos.
Enquanto eu viver, não deixarei esse assunto de lado. A luta por justiça pelos mortos da ditadura, pela localização dos restos daqueles que até hoje permanecem desaparecidos. Que suas famílias tenham o direito à verdade. Mas que também os criminosos sejam punidos sim nos padrões acima citados. Não se trata de revanchismo, trata – se de investigar, julgar e condenar criminosos. Não pode ser saudável uma sociedade que tem seus torturadores livres e levando vidas absolutamente normais, enquanto suas vítimas padecem com marcas físicas e psicológicas, quando não constam da lista de desaparecidos.
Que a lembrança daqueles que morreram na esperança de um mundo melhor fortaleça nossa luta. Que as nossas angústias somadas sejam nada mais que nossas forças somadas. E viva a luta incessante dos professores que iluminam o saber.


 “Quem me dirá onde está 

Aquele moço fulano de tal

(Filho, marido, irmão, namorado que não voltou mais)

Gonzaguinha






sexta-feira, 8 de março de 2013


Na verdade, não é uma história bonitinha. É uma história de violência. Violência nas primeiras fábricas contra as primeiras operárias, violência de trancá - las na fábrica e tocar fogo, violência de não respeitar direitos fundamentais, violência de matar porque não aceitou o fim do relacionamento, violência de matar porque não queria pagar a pensão do filho. No momento, vivemos uma pandemia de feminicídio. Não dá pra esquecer disso!!! Atualmente, em alguns lugares como o Brasil, sete em cada dez mulheres correm o risco de serem estupradas ao longo de suas vidas. Ao mesmo tempo em que continuam cumprindo triplas jornadas e ganhando sim menores salários que os homens. Quero um feliz dia de luta, que não me falem que sou mais sensível, que sou mais fraca, que mereço mais atenção. Que me falem que sou parte da espécie humana, que grito por liberdade e que luto com todas as veias do meu corpo para que não calem minha voz. Viva o 8 de março!