segunda-feira, 17 de junho de 2013

Aprendendo a lutar ou "Vem pra rua vem...contra o aumento!"

Dedicado aos jovens de qualquer idade

Em meio a tantas ideias, formas de manifestação e novidades para muitos, escrevo na tentativa de organizar algumas frases, mesmo sabendo que corro o risco de ser bem primária nessa organização. Após assistir a deflagração de quatro atos em favor da redução da passagem de ônibus em São Paulo, não pude deixar de ir ao quinto (sem duplos sentidos).

Primeiramente, temos na rua toda uma geração que não tem experiência de luta. Está sendo apresentada e se apresentando agora. Resultado não apenas da pouca idade da maioria dos manifestantes, como também da conjuntura que vive o país. Essa geração vive uma situação que “trava” muito das lutas ditas “tradicionais”, uma vez que estão saindo do Ensino Médio e até das universidades, para um mercado de trabalho que mesmo quando formal, está cada dia mais precarizado. “Ter direitos” parece uma expressão cada vez mais alienígena, pois a maioria nem chega a experimentar dos “antigos” direitos trabalhistas. A última vez que o povo foi dessa forma para as ruas ficou lá atrás, em 1992, com o “Fora Collor”. Ou seja, os jovens que agora estão nessas manifestações não lutaram antes não porque não quiseram, mas porque a oportunidade histórica ainda não havia se apresentado. E quando a mesma apareceu, essa juventude não se furtou em agarra – la com todas as forças.

Em segundo lugar e não menos importante, é que ainda vivemos sequelas dos “anos de chumbo”. A Ditadura Militar deixou marcas tão sérias que hoje vemos jovens gritando contra a presença de partidos políticos nas manifestações. Ou seja, além de convencer a muitos de que lutar não resolve nada e ainda é muito perigoso, incutiram também a ideia de que partido político é algo nefasto. E aí a confusão vai longe, pois todos os presentes em uma manifestação de rua já tomaram partido. Por outro lado, a atuação dos partidos políticos burgueses após o fim da ditadura tornou o cenário cada dia mais despolitizado. Na verdade, o povo desconfia dos partidos porque sabe que o sistema não funciona a seu favor, mas não sabe como canalizar isso e distorce o significado de partido.

Após séculos de deturpação da história brasileira, e a condução sistemática do ensino de história nas escolas do país ao longo do século XX, também carregamos outros problemas nas costas. O mito do brasileiro quieto, sem grandes lutas, sem grandes revoltas. O mito do brasileiro “acordando agora”. Basta ler só um pouquinho de um livro didático de História atual para verificar grandes lutas do povo brasileiro. O Quilombo de Palmares, a Cabanagem, a greve de 1917, a resistência na Era Vargas, a resistência na Ditadura Militar. Quantas greves nos anos 80, 90 e no século XXI. Só para começar. Que povo corajoso, que nunca sucumbiu! Quantos heróis!

A partir dessas manifestações, uma geração experimenta a luta, descobre sua voz e a vontade de lutar. Os canais? Pequenos pontos, como a passagem de ônibus. Mal sabem que até revoluções já começaram com coisas assim. Mas ainda não sabem muito bem o que fazer com isso. Estão nas ruas. Levam cartazes, tiram fotos, convidam os amigos. As redes sociais tiveram papel preponderante nesse processo, sem dúvida. Vivemos uma nova forma de organização e denúncia em tempo real. Quem não se atualizar, vai ficar para trás. Mas como cobrar dessa geração uma experiência histórica que ela não teve? Tem agora, e agora vai aprender. O resultado? Imprevisível, como sempre. Pode ser que acabe apenas como mais um ato de rua. Pode ser que se transforme em algo muito maior. De qualquer maneira, a luta educa e ensina, através da experiência. Esses jovens nunca mais serão os mesmos, depois de experimentarem o gostinho da luta, da rebeldia, da insubmissão.

Da minha parte, entrei em mais uma luta depois de vinte anos sem parar. Quem já viveu organizado em movimentos, partidos políticos e sindicatos, sabe que essas manifestações são importantíssimas, mas é preciso ter muita paciência. O que meus olhos viram hoje nas ruas da minha cidade natal foi muito bonito. A maioria era jovem, mas encontrei muitos da minha idade e até mais velhos. Também encontrei velhos conhecidos, e conversei com gente que nem conheço. Andei aproximadamente 15 quilômetros em um ambiente extremamente agradável. Casais de namorados, grupos de amigos, gente segurando cartolinas. Gritei palavras de ordem até bem humoradas, situação à qual não estou muito acostumada, por ouvir coisas bem mais duras na vida sindical.

E algumas coisas chamaram bastante a minha atenção. Qualquer tentativa, por mais tímida, de atos de depredação ou violência, foi prontamente corrigida pela multidão. Uma tentativa de pichação, e uma bombinha dessas que explodem aos montes em escolas, foram repelidas imediatamente com “Violência não!”. Fiquei surpresa com a rapidez e determinação dessa reação. Por outro lado, também pude conferir uma população simpática a tudo isso. Salvo por raríssimas exceções, os motoristas presos no trânsito nos fotografavam e filmavam como se fossemos celebridades. Alguns riam, outros buzinavam em ritmo a pedidos. E muitos desses motoristas ganharam flores de presente. Até motoristas de ônibus e seus passageiros queriam registrar o momento. E ia quase me esquecendo das pessoas que penduraram e acenaram panos brancos na janela, também em apoio à multidão.

É claro, sempre vamos ouvir a reação chamando de vandalismo, baderna, arruaça, sem sentido, modinha. Mas para quem tem “20 anos de praia”, “nada de novo no front”. Isso faz parte do processo. Eu não seria louca de virar as costas para essa movimentação, sabendo de sua importância a médio e longo prazo. Na Rússia, em 1905, uma manifestação pacífica duramente reprimida caminhou até uma revolução anos depois, em 1917. Nunca podemos desprezar o aprendizado popular.

Poder viver para ver é muito bom. Poder participar, melhor ainda. 
Vem, vem, vem pra rua vem...contra o aumento!



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