E eis que vivemos mais
um dia 20 de novembro. Há trezentos e dezoito anos atrás, seres humanos que
foram brutalmente escravizados, torturados e tratados como mercadorias,
resistiram até a última gota de sangue sob a liderança de um homem que, como
qualquer outro ser humano capaz de identificar a liberdade como uma questão da
qual não se abre mão, preferiu morrer para não desperdiçar a vida em uma
senzala.
Pois bem, trezentos e
dezoito anos se passaram e vivemos em um país confuso e atordoado pelas idéias difundidas
pela classe dominante. Claro, porque é uma velha tática, dividir para melhor
dominar. E o racismo sempre fez parte disso.
E aí que é impossível
não dizer nada diante dessa confusão de idéias que as pessoas vivem. E confesso
que também tenho estado bastante estarrecida diante de frases veiculadas em
redes sociais com os dizeres “no dia em que houver a consciência humana não
precisaremos mais das outras...” ou coisa parecida, na verdade não importa. O
que importa mesmo é a idéia principal.
Consciência humana? Ah,
claro, em uma sociedade de classes! Seria engraçado se não fosse trágico.
Agora, vamos parar de brincar com coisa série e buscar dados científicos? Vamos
começar a entender por quê praticamente não existem negros nas universidades
brasileiras? Por quê praticamente inexistem no Brasil médicos e juízes negros,
sendo que a maioria da população por aqui é negra?
Se você começar a
argumentar que “os negros tem racismo contra eles mesmos”, que “os negros se
vitimizam” ou “eu me esforcei para ter minhas coisas, os negros tem que se
esforçar também”, fica a dica: assuma de uma vez seu racismo, ou comece a
entender um pouco mais sobre o funcionamento da nossa sociedade. E não importa
a cor da sua pele, porque muitos oprimidos às vezes reproduzem a ideologia
daqueles que o oprimem, isso pode sim acontecer. “O racismo é uma ideologia. A
ideologia só pode ser reproduzida se as próprias vítimas aceitam, a introjetam,
naturalizam essa ideologia.”, disse recentemente o antropólogo Kabengele
Munanga em entrevista à Revista Fórum. Ele mesmo, com uma experiência pessoal
muito interessante, pois veio da África diretamente para estudar e trabalhar na
USP. E isso não o impediu de sentir na pele o racismo brasileiro, que ele
define como um crime perfeito, pois no Brasil, diferentemente da realidade dos
EUA, “a população negra e indígena viveu muito tempo sem leis nem para
discriminar nem para proteger”, e isso apenas aumenta a convicção de muitos nos
mitos da democracia racial e da igualdade de direitos, ficando muito mais
difícil a identificação do opressor.
Kabengele
ainda argumenta que, ao contrário do que acontece nos EUA, o brasileiro foi
educado para não assumir seu racismo: “se fosse um
americano, ele vai dizer: “Não vou alugar minha casa para um negro”. No Brasil,
vai dizer: “olha, amigo, você chegou tarde, acabei de alugar”. Porque a
educação que o americano recebeu é pra assumir suas práticas racistas, pra ser
uma coisa explícita.”
E voltando
a Zumbi e aos Palmares e aos quilombolas... quanta história tem o Brasil! Para
ser desacreditado em tantas frases vulgares... como um povo sem ação, sem
noção, sem valores...como historiadora, confesso que não consigo esconder minha
predileção pela história do Brasil, sua luta e sua resistência. E para fechar o
texto, recorro novamente aos argumentos do doutor Kabengele Munanga, nos
advertindo que “(...) houve a resistência, o negro não era um João-Bobo que
simplesmente aceitou, senão a gente não teria rebeliões das senzalas, o
Quilombo dos Palmares, que durou quase um século. São provas de resistência e
de defesa da dignidade humana. São essas coisas que devem ser ensinadas. Isso
faz parte do patrimônio histórico de todos os brasileiros. O branco e o negro
têm que conhecer essa história porque é aí que vão poder respeitar os outros.”
Espero ter provocado, pois era este meu objetivo. Provocar reflexão, debate, argumentação, a percepção do entorno. Apenas em uma sociedade sem classes sociais estaremos livres do racismo. E estamos bem longe disso... Portanto...
Espero ter provocado, pois era este meu objetivo. Provocar reflexão, debate, argumentação, a percepção do entorno. Apenas em uma sociedade sem classes sociais estaremos livres do racismo. E estamos bem longe disso... Portanto...
Zumbi dos Palmares...
Presente!
Todos os quilombolas...
Presente!
Não sei de quem é a charge
junto à postagem, mas juro que não encontrei nada mais esclarecedor...