quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pelo Direito à Memória

No dia 23 de agosto de 2011, perdemos a companhia de Silvia dos Santos Menezes, que desde o ano passado caminhava conosco. Quando nos deixou, estudava na 6ª série A, fazendo parte da nossa comunidade Escola Estadual "Professor Jorge Rahme".

Ela desapareceu abruptamente, tendo sua curta existência assim interrompida, deixando em nós um espaço vazio que somente ela podia ocupar.

Recebemos a lamentável notícia algumas horas antes do sepultamento do seu corpo. Consternados, reunimos um grupo de professores para prestar algum tipo de homenagem e para mostrar à sua família o quanto estávamos compartilhando a dor de sua ausência. Seus companheiros de estudo escreveram mensagens em cartas e cartazes, levados por nós até a sala onde sua família e amigos rodeavam seu corpo sem vida.

Silvia continuará existindo em nossas memórias, permeadas pela lembrança de um sorriso doce, um rosto iluminado e uma presença muito querida.

Pelo direito à memória, que estas palavras consigam reunir a importância de uma menina com doze anos incompletos de vida, que muito conseguiu significar em nossos corações.

"E os corpos levantados, as mãos presas e o instante dos olhos que se fundem na lágrima comum. Assim o caos devagar se ordenou entre as estrelas. Eram estas as grandezas que dizia ou diria o meu espanto, se dizê - las já não fosse este canto."

José Saramago


sexta-feira, 18 de março de 2011

Repercussão da Perseguição

Acompanhe a repercussão da política perseguitória da PUC/SP em diversas publicações:


Jornal da Apropuc (Associação dos Professores da PUC/SP)


http://www.apropucsp.org.br/apropuc/index.php/jornal-em-pdf/3793-baixe-o-jornal-pucviva-no-774-21032011

Blog da Apeoesp de São Bernardo do Campo

http://apeoesp.blogspot.com/2011/03/pucsp-persegue-ex-bolsistas-que-nao.html

Site do PSTU

http://www.pstu.org.br/movimento_materia.asp?id=12469&ida=0

E a luta continua!

quinta-feira, 10 de março de 2011

PUC/SP: uma prática que contradiz sua história

Durante muitos anos a PUC/SP carregou a fama de uma universidade que, apesar de privada, conservava um caráter comunitário. Essa característica foi concretizada ao longo dos anos por uma série de práticas e acontecimentos que respaldaram setores mais vanguardistas da sociedade. Em 1977, abrigou o III Encontro Nacional de Estudantes (ENE), cujo objetivo maior era reorganizar a UNE (União Nacional dos Estudantes), então na ilegalidade. O episódio culminou na invasão da universidade pelos militares. Nos anos 80, a PUC/SP teve presença marcada nas “Diretas – Já!”. Em 1985, o filme “Je vous salue, Marie”, de Jean – Luc Godard, então censurado no Brasil, foi exibido clandestinamente por alunos da universidade. Nos anos 90, o “Fora Collor” ganhou forças entre a maioria dos estudantes e professores. Some – se a isso a política de bolsas praticada pela instituição que, sendo filantrópica, permitia o ingresso e permanência de muitos estudantes egressos das periferias dos centros urbanos. Tudo isso fazia com que a PUC/SP fosse uma universidade privada com cara de pública.
A PUC/SP entrou no século XXI negando a sua história. Realizou um imenso corte de pessoal, demitindo antigos funcionários, mestres e doutores. Entregou sua administração nas mãos de grandes banqueiros e escritórios de cobrança fechando definitivamente seus canais comunitários de negociação. E assim, passou a perseguir seus ex - alunos em dívida com a universidade, vetando qualquer tipo de negociação, movendo processos judiciais tão pesados que muitos burgueses que cometeram crimes hediondos não sofrem. Dessa forma, a prática da PUC/SP hoje resume – se a perseguição de estudantes, demissões em massa, precarização das condições de trabalho e criminalização da pobreza.

http://www.pstu.org.br/movimento_materia.asp?id=12469&ida=0


quarta-feira, 2 de março de 2011

Cachorro Urubu ou o avesso da universidade*

*Texto produzido em 2007.


“E todo jornal que eu leio,
me diz que a gente já era,
que já não é mais primavera,
oh baby, oh baby,
a gente ainda nem começou...”

Cachorro Urubu – Raul Seixas

Foi com muita tristeza – e quem sabe com nenhum espanto - que assisti na televisão a desocupação da Reitoria da PUC/SP ser realizada pela tropa de choque. Triste fim para a história de uma universidade que tem seu nome ligado a grandes mobilizações da vida política desse país. Não pude deixar de escrever alguns comentários sobre o assunto, pois não só carrego o nome da PUC nos meus diplomas, como também carrego no meu coração inúmeras lembranças dos cinco anos em que praticamente “morei” no campus Monte Alegre - além de ter plena consciência que boa parte da formação que tenho hoje é resultado da excelência científica que encontrei nesta universidade, que além de ser responsável pela formação de muitos intelectuais no Brasil ainda tem seu nome cravado em tantos momentos da história recente do mesmo, sendo um pólo de resistência contra a ditadura militar, principalmente nos anos 70.
O episódio da invasão da PUC pelos militares no dia 22 de setembro de 1977 é muito conhecido, e até hoje tema de artigos, conversas informais e assunto presente nas lembranças de muitos que lá estudaram, em qualquer época. Assunto importante porque, em plena ditadura, a UNE organizou um encontro clandestino no campus Monte Alegre, reunindo um número até hoje incerto de estudantes, pois na história não se contabiliza aquilo que é clandestino, proibido e reprimido.
Na data citada, a PUC foi invadida barbaramente por uma tropa da polícia militar que colocou centenas de estudantes em fila indiana, envolvidos ou não com a UNE. Lembro até hoje do relato de alguns dos meus professores, os quais tive a oportunidade de ouvir pessoalmente, relembrando daquele dia. Uma estava na sala de aula, lecionando, quando um militar invadiu seu espaço e ordenou para que todos saíssem. Outro tropeçou durante o encaminhamento da fila, e foi socorrido a tempo pelos seus colegas, antes que a truculência armada se irritasse com o acidente.
Mas as coisas não terminaram aí. Boa parte do edifício foi depredada, pelo menos uma bomba de napalm foi utilizada – versão sempre negada pela oficialidade – e um número considerável de estudantes saiu ferido, alguns em estado de hospitalização e cirurgia. Todos foram levados para “averiguação”. Todos também sabem quem foi o responsável pelo comando da operação, mas a cada dia que passa, parece mais perigoso citar determinados nomes...Aliás, o melhor é não citar nenhum. Estamos mesmo em uma democracia ou a maioria realmente vive na caverna?

Invasão da PUC/SP pelos militares em 22/09/1977


A então Reitora conduziu muito bem a defesa da universidade, assim como o então Cardeal de São Paulo. Em entrevistas escritas e faladas, e também em depoimentos, defenderam os estudantes, a universidade, a juventude e a liberdade, guardadas as restrições que aquele momento histórico tenebroso impunha.
Nos dias seguintes, o assunto ganhou proporção na imprensa. Afinal, mesmo se tratando de um período ditatorial, uma universidade católica havia sido invadida pelos militares e estudantes de classe média assediados e feridos – o que sempre repercute. A partir deste episódio, iniciou – se uma questão de autonomia e segurança. Quantas vezes eu ouvi que “polícia não entra na PUC!”. Na época, o Cardeal chegou a declarar na imprensa que “polícia só entra na PUC se fizer vestibular”. Não obstante, um pouco mais tarde teria início o lento processo de abertura política e anistia. Uma parte dos anos mais horrorosos da história republicana do Brasil estava chegando ao fim – digo parte porque o brasileiro, enquanto povo, respirou poucos ares tranqüilos ao longo de sua história.
Os anos se passaram e a PUC continuou a ser palco de importantes movimentos da História do Brasil, como as Diretas – Já, defesa dos povos indígenas, lutas contra o racismo, contra a globalização capitalista, contra as comemorações mentirosas dos 500 anos do país, invasão do Afeganistão, Iraque, sempre causando polêmica, organizando mesas de debates, participando de manifestações públicas.
Ocupar a reitoria da PUC passou a ser uma das ferramentas dos estudantes frente aos aumentos abusivos de mensalidades ocorridos a partir dos anos 80. Ao contrário do que muitas mentes conservadoras podem propagar, ocupação de reitoria não é atitude de uma horda de bárbaros que quebram tudo o que encontram pela frente, como vem propagando uma emissora de tv muito conhecida. As ocupações que ocorreram na PUC, principalmente a de 1999, foram muito mais organizadas e pacíficas do que muitos eventos oficiais observados neste país. Tal ferramenta permitiu obter, sendo utilizada quando todos os outros meios haviam se esgotado, matrículas para estudantes inadimplentes, isentar de taxas de matrícula fora de prazo e cobrar quando a própria universidade recusava – se a negociar em termos plausíveis e adequados com a realidade de muitos que ali ingressaram via vestibular – o que sempre entendi como uma obrigação da universidade, que recebia isenção de milhões de impostos por ser “filantrópica”. Além do mais, vamos lembrar porque é muito importante, é legítimo lutar contra o caráter privatista da educação, que não é uma mercadoria – pensamento este cada dia mais restrito para um número menor de cérebros humanos.
Assim, assisti a desocupação da reitoria pela tropa de choque como a última pá de terra por cima de um cadáver que jazia há algum tempo. A última porque, como é de conhecimento público, a PUC entregou parte de sua administração nas mãos de grandes banqueiros, retirando assim seus canais comunitários de negociação com os estudantes, proibindo festas, afixação de cartazes, manifestações, instalando sindicâncias contra seus estudantes mais engajados na luta pela educação e livre desenvolvimento do ser humano, cobrando e perseguindo judicialmente seus ex – bolsistas, demitindo uma parte importantíssima de mestres e doutores que fizeram o nome da universidade ser respeitado nacional e internacionalmente.
Acredito que a PUC que eu conheci, e tantos outros conheceram, nos anos 70, 80 e 90, desapareceu, morreu, perdeu – se nos mares revoltosos da história. As ondas da repressão que um dia tentaram traga – la, agora são geradas em seu interior, devorando seus próprios filhos, impedindo suas próprias idéias, sua própria fonte criativa e criadora. Triste e verdadeiro, escrevi este texto sem nenhuma pretensão acadêmica para que a história não seja esquecida e nem adulterada, caso contrário, eu não seria mais uma historiadora, seria uma matéria amorfa também tragada pelas ondas do irracional, deixando para trás a luta por “uma sociedade onde o livre desenvolvimento de cada um signifique o livre desenvolvimento de todos.”

Invasão da PUC/SP pela tropa de choque em 2007

“Vós que vireis na crista da onda em que nos afogamos, quando falardes de nossas fraquezas pensai também no tempo sombrio a que haveis escapado.”

Bertold Brecht

PUC/SP persegue ex bolsistas que não conseguem pagar dívida com a universidade

UNIVERSIDADE NÃO NEGOCIA VALORES DENTRO DAS POSSIBILIDADES DOS SEUS EX ALUNOS BOLSISTAS, MESMO SENDO ISENTA DE PAGAR IMPOSTOS AO GOVERNO POR CONTA DA FILANTROPIA


A SEGUIR, CARTA ABERTA DENUNCIANDO AS PRÁTICAS TERRORISTAS DA INSTITUIÇÃO


Carta aberta escrita por dois ex- bolsistas da PUC/SP


Esta carta nasceu frente a necessidade de divulgar a política de terror instaurada pela PUC/SP contra ex bolsistas da universidade.


Estudamos na PUC/SP no final dos anos 90, concluindo o curso de História já no início do século XXI. Durante grande parte do curso, obtivemos a modalidade de bolsa restituível, uma vez comprovada carência que impossibilitava o pagamento das mensalidades.
No ato da conclusão do curso, fomos informados na então VRACOM (Vice Reitoria Comunitária) que, caso não pudéssemos arcar com o valor da restituição que seria cobrado a partir de um ano decorrido da formatura, todos os tradicionais canais de negociação da universidade estariam abertos.
Decorrido então este período, uma série de mudanças começaram a se desenhar na universidade. A partir de 2003, realizamos uma série de propostas de pagamento da dívida, dentro de nossas possibilidades - inclusive comprovando nossas rendas mensais, incompatíveis com os boletos que passamos a receber.
Em nenhum momento as nossas propostas foram aceitas. Concomitantemente a isso, a PUC sempre recusou - se a reconhecer que, neste caso específico, existe um casal devedor, e não dois indivíduos. Mesmo comprovando que nos casamos em cartório no ano de 2002, a instituição recusou - se a estabelecer uma negociação coletiva, desconsiderando que as duas dívidas juntas afetam a mesma renda familiar. A última proposta que fizemos foi entregar nosso automóvel - único bem que possuímos - para saldar parte das duas dívidas e tentar um pagamento compatível com nossas rendas do restante do valor. Mais uma vez, nossa proposta não foi aceita. As condições de pagamento impostas pela universidade sempre beiraram a nossa própria renda mensal.
Neste mês de fevereiro, meu esposo foi acordado por um oficial de justiça que trazia uma ação monitória, em curso de execução no valor de R$39.000,00. Comparecemos à PUC para mais uma tentativa de negociação, mais uma vez encontrando grande inflexibilidade por parte da instituição. Descobrimos então que o total da dívida de meu esposo chega ao valor de R$70.000,00, e que, já estou sendo executada também no valor de R$ 13.000,00, devendo um total de R$60.000,00. Mais uma vez, a universidade não reconhece nossa união legalmente registrada, não reconhece nossa situação salarial, tampouco divide em parcelas acima de 36 vezes, sem contar que exige uma entrada com valor – para cada um de nós – muito acima do que vale o nosso veículo, por exemplo. Caso não paguemos a dívida, nossas contas bancárias serão bloqueadas e todo o salário depositado nelas será resgatado pela PUC. Após esta medida, nossos fiadores – no caso, nossos pais – passam a correr um risco eminente de perderem seus únicos imóveis que utilizam como moradia. Segundo informações fornecidas pela própria instituição, as nossas vidas estão nas mãos do CONSUN (Conselho Universitário), podendo aceitar ou não novas propostas de negociação.
Para demonstrar o caráter do terrorismo institucional que estamos sofrendo, vale a pena notificar alguns aspectos de suma relevância. Quando do nosso último comparecimento no setor de cobrança, foi absolutamente negado o acesso aos nossos prontuários, contendo todas as provas de que realizamos propostas de pagamento ao longo dos anos – inclusive uma série de manuscritos realizados nas folhas padrão da antiga VRACOM. Também houve recusa para fornecer a planilha de dívida da bolsa restituível, com detalhamentos para sabermos, dentro do valor totalizante, o que realmente faz parte da dívida, o que é multa e o que é juros. Fomos informados de que deveríamos tentar receber isso por email, podendo levar até 10 dias para obtermos resposta – tempo curto para quem tem apenas 15 dias para se defender de uma ação judicial de execução. Além disso, durante as conversações ainda sofremos atitudes preconceituosas por nossa opção de lecionar apenas em escolas públicas. Isso ocorreu devido à informação que revelamos sobre nossa renda mensal, que considerada muito baixa pela parte credora, ainda questionou porque não trabalhávamos mais.
Devemos encarar estes acontecimentos não apenas como um caso isolado que afeta apenas a vida particular de duas pessoas. É evidente que, caso soframos todas as conseqüências que a instituição pretende aplicar, nossas vidas serão absolutamente desfiguradas, perderemos toda a identidade que levamos anos para construir. Mas, mais do que isso, trata – se de um processo muito maior do que a vida de um indivíduo. Trata – se da criminalização daqueles que optaram por construir uma sociedade mais igualitária através dos serviços públicos e que, além de serem punidos por péssimas remunerações pelo Estado burguês que os empregam, ainda sofrem retaliações por parte do capital das empresas privadas. Criminalização também da pobreza, pois, vivendo em um país em que a burguesia dificilmente é punida por seus crimes, a população pobre devedora é tratada como autora de atos de banditismo, sem chance sequer de defesa e negociação.
Convocamos a todos que se indignam frente às injustiças provocadas por um sistema que optou pelo capital e se esqueceu do ser humano, para entrar nesta luta de resgate dos valores comunitários, democráticos e que possam construir uma sociedade em que “o livre desenvolvimento de cada um signifique o livre desenvolvimento de todos”.